Surfe deluxe

Esporte de Peter Pan

16.6.08


Outro dia recebi do amigo Dinho Amaral, um surfista apaixonado por carros antigos, a imagem acima. O anúncio do Passat Surf, de 1970 e tal, mostra como é antigo recurso da propaganda de usar o surfe como recurso de identificação com os jovens mais descolados. Hoje também usam a imagem do esporte em detergentes, empresas de telefonia, relógios, bebidas isotônicas, etc. Talvez o maior ativo do surfe seja a de esporte de Peter Pan, de gente que não envelhece.
Alguns peter pans reclamam muito da contrapartida miúda que o surfe recebe pelo uso comercial indiscriminado dessa imagem. Outros preferem a escassez de recursos a ver o esporte rico, engessado pelas leis do mainstream.

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Diário de surfista latino-americano

12.6.08

Surfe Deluxe indica o blog Surfpress a quem quer ultrapassar fronteiras na América Latina. O conteúdo é tocado pelo argentino Sebastián Chacón, com a colaboração de jornalistas-surfistas da Argentina, Uruguai, Venezuela, Panamá e México. Um exemplo de integração pelas ondas.

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Quando começa a vida?

9.6.08

Na foto de 2005, os amigos de todas as horas: Edu, Juninho, Cesar, Manga e Guga

Essa era maior dúvida na cabeça dos ministros togados do Supremo Tribunal Federal, durante a discussão sobre a constitucionalidade da Lei de Biossegurança. Santo Agostinho, lá no século quinto, já passava noites em claro por isso.

A tal lei autoriza a pesquisa em células-tronco extraídas de embriões produzidos in vitro. Até então, nenhum problema. A questão é que, para as células serem obtidas, os embriões têm que ser destruídos. Daí, a polêmica: a Igreja considera a fecundação como o início da vida.

Para o designer-surfista Edu Savine, 36, a vida não teve apenas um início.

O primeiro foi nascer nas ondas do Leblon, onde passou bons momentos da infância. Moleque, usava sua força superior à dos amigos para maltratar os lips nada tímidos da área. Tinha um surfe firme, cheio de patadas.

Cresceu, casou, teve filhos e ainda surfava com freqüência quando o acaso bateu à porta. Foi em Itacuruça, num dia de lazer com a mulher e os filhos. Um mergulho num mar não muito profundo lhe rendeu duas vértebras cervicais fraturadas: a C6 e a C7. Tetraplégico. Uma encruzilhada para qualquer um, especialmente para um surfista.

Foi um novo início da vida. Ao lado da mulher, Fernanda, e dos filhos, Edu passou por cima de tudo. Durante a recuperação no hospital, aprendeu com quem vivia em situação pior. Ganhou novos amigos sem perder os velhos. Adaptou-se.

Um dia, meses atrás, os velhos amigos o convidaram para surfar de novo. Dariam um jeito. Afundariam juntos, se fosse preciso. Edu já tinha recuperado parte dos movimentos dos braços, mas teria que descer a onda deitado. "Pô, nunca gostei de bodyboarding, sabe como é...". A pilha dos camaradas falou mais alto que a velha implicância. Amarrado à prancha com um cinturão que fecha com velcro, ele foi levado para o outside de um dia pequeno na Barra da Tijuca. O golfinho era dado em equipe, sob a coordenação do próprio Edu. Depois de algumas tentativas, conseguiu pegar quatro ondas. Entrou no corte e tudo.

Mais um novo início da vida. Edu ficou amarradão, como todo bom surfista, e quer mais. Foi à fábrica da Wet Works, onde conversou com um amigo designer sobre as possibilidades de adaptação de uma prancha à sua deficiência. Em três dias, o equipamento estava pronto.

Dias atrás, ele comemorou outra vitória: a da ciência sobre os dogmas religiosos, no STF. A pesquisa com células-tronco foi liberada e, daqui em diante, cientistas brasileiros poderão encontrar uma solução para o problema dele e de outros cadeirantes. Edu sabe que a cura não virá amanhã, mas comemora a estrada aberta rumo a mais um entre tantos recomeços de vida.

Por enquanto, ele trata de viver. De prancha adaptada, o designer Edu quer agora riscar linhas na onda. E entubar. Não seria esse, afinal, o início de tudo?

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O relato do Edu


"Não tinha muitas expectativas de surfar, uma vez que seria deitado e sempre desgostei de bodyboarding, sabe como é... Mas o Juninho botou a maior pressão, depois o Guga e o Manga (Marcelo), aí não teve jeito. Vamos lá!

Num domingo, nos encontramos próximo ao Barrabela (Barra da Tijuca). Juninho levou um funboard 7'.4" sei lá de quem, que funcionou muito bem. Me levaram na cadeira de rodas até próximo da beira. Dali, eu desci da cadeira e sentei no bico do funboard. Puxaram a prancha até a beira e lá me deitei na prancha. Prenderam meu corpo com um cinturão que fecha com velcro. Como ele passa pelo fundo da prancha, se transforma num freio (com o atrito da água).

Fomos para dentro d'água e começamos tentando pegar umas espuminhas. Acabou que decidimos é ir lá pra fora (outside) pegar a onda desde o início. O mar tava merrequinha, é claro, e consegui surfar umas quatro ondinhas. Uma coisa que achei muito bacana foi o "golfinho em equipe". Para furar as ondas, dois dos três amigos vinham para o bico da prancha e o afundavam junto comigo. Eu na verdade quase não fazia nada. Só observava e palpitava!Como cansa!!!

Pedi para sair e percebi que não era só eu o cansado, e sim todo mundo! Foram chegando mais amigos, e por fim rolou mais uma caidinha no fim de tarde, que é justamente a que está registrada no filminho. Desta vez, a maré estava cheia e as ondas muito próximas da areia, mas mesmo assim encarei. Peguei mais duas ondinhas, justamente as que estão filmadas.
O que posso dizer é que basta olhar nas fotos que estão no meu Orkut e reparar na minha fisionomia. Até eu me surpreendi com meu sorrisão na cara. FOI BOM DEMAIS!!! Eu agora quero mais!

A segunda caída tá demorando a sair, mas já estive na Wet Works e pedi umas adaptações em uma prancha velha que tenho a meu grande camarada Marcelo Testão. Ele entregou o equipamento modificado em dois dias! Isso sem falar nas idéias que começaram a surgir em nossas cabeças (os dois são designers formados pela PUC). A idéia é descer mais ondas, colocar no corte, desenhar as ondas e se possível, tirar um tubinho. Vamos ver!"

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Edu volta ao surfe

O vídeo do dia em que Edu Savine volta a surfar, produzido pelo amigo Alex Amaral. Na praia, estão ainda Juninho, Guga, Manga, Camarão, Lúcio, Fredinho e Schmidt.

Um dia de Sancoline

7.6.08









Semana passada, os fotógrafos Fábio Minduim e Beto Paes Leme (dentro d´água) registraram, para a revista Blackwater, um dia de gala em São Conrado, daqueles que justificam o apelido de "Sancoline". A se lamentar, apenas a ausência de surfistas. Só tinha bodyboarder no pico.


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Opinião: Burle em três tempos

5.6.08


Dia desses, peguei uma praia inesquecível com a família. Fomos à Barra convidados pelo Carlos Burle. Ele chamou uma galera tranqüila para surfar de fish e se divertir em meio metro de onda, mar cristalino, água quente e sem vento, debaixo de um sol tão ameno que parecia ter sido ajustado em termostato. O evento, chamado de Mitsubishi Fish Classic, foi dominado de maneira inconstestável pelo Teco Padaratz e pelo advogado-surfista - ou seria surfista-advogado? - Serginho Chermont. Mas, em vez de falar do evento, prefiro contar mais sobre o Burle.

De minhas memórias de moleque, a mais viva é num brasileiro no Pontão do Leblon. Eu era bem moleque, mas lembro da minha admiração pela linha suave e fluída que ele fez naquelas ondas de elevador. O Fernando Bittencourt venceu, mas saí dali com a certeza de que o melhor surfista daquele dia tinha sido o Burle.

Mais tarde, coisa de oito anos atrás, iniciei com ele uma relação profissional saudável. De repórter com surfista. Contei boas histórias em que Burle era o protagonista, ao lado do Eraldo. Dos encontros vividos, ficou a impressão de que o cara tinha três habilidades raras, além da técnica nas ondas: coragem serena, tino para se comunicar e gentileza.

Sobre a coragem: certa vez, embarquei com a dupla num barquinho de alumínio - feito para águas paradas - num Grumari em dia de mar grosso, com vagas de dois metros. A missão era conferir uma laje existente entre Grumari e Guaratiba. Só saímos do canto direito da praia, que é abrigado das ondas, quando um amigo fora d'água nos avisou da calmaria. Burle encheu o motor de potência e, de repente, ouvimos um barulho esquisito. Rateou, o motor rateou enquanto o horizonte se enchia com uma série de ondas.

A dupla ainda discutia o problema quando a primeira onda passou sem quebrar. Veio mais uma, desta vez maior, e Burle conseguiu botar o barco na única posição em que ele não viraria. O casco de alumínio parecia que ia rachar em várias partes quando o barco saltou a onda, trôpego. A essa altura, eu já estava pronto para pular. Mas, com uma tranqüilidade quase irritante, os dois consertaram o defeito no motor e seguimos adiante. Manter a calma em situações tensas é um dos maiores sinais de coragem num surfista.

Sobre a gentileza: Burle organizou o Mitsubishi Fish Classic para os amigos. Providenciou espaço para as crianças brincarem, comes e bebes à vontade, uma puta infra-estrutura e presentes. Em nenhum momento, quis ser o personagem principal da festa. Não escolheu a prancha mais esticada entre as disponíveis para os competidores. Dentro d'água, tentou ser fiel à linha de surfe mais clássica, mesmo sabendo que aquilo poderia custar sua classificação para a fase seguinte. Mas foi do amigo Bezinho a melhor definição de sua gentileza: "Ele é o tipo de cara famoso que, quando te encontra, toma a iniciativa de perguntar se você lembra dele, de quando se encontraram tempos atrás no Havaí. Pô, é claro que eu lembro dele. Achei que fosse ele que não lembrasse de mim. Ele tem esse cuidado com as pessoas."

Sobre o tino para comunicação: essa é a mais simples. Burle desde cedo percebeu que a construção dessa imagem de surfista de ondas gigantes que une coragem à gentileza poderia transformá-lo num personagem querido pela mídia. Para facilitar as coisas, foi um dos primeiros surfistas brasileiros (se não o primeiro) a contratar um assessor de comunicação, o Márcio Bacana, para trabalhar a sua imagem. Deu certo.

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As imagens do diário (II): Maldivas






Acima, o segundo álbum de fotos do surfista, administrador e tricolor Alexandre Ratto nas Ilhas Maldivas. Confira aqui o diário de viagem dele e outras fotos.
1 e 2) na seqüência, manobra de tirar o chapéu.
3) o inesquecível caminho para alguns bangalôs do resort
4) o lado sem ondas do resort, chamado de "blue lagoon"
5 e 6) no melhor deque do mundo, ondas à vista
7) pôr-do-sol comum nas ilhas
8) a cavada que precede a rasgada de tirar o chapéu

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Surfe Deluxe
Blog de notícias sobre as ondas e seus personagens, escrito com palavras salgadas pelo jornalista Tulio Brandão.
Participe!
Surfe Deluxe divide a onda. O blog é aberto à participação dos leitores, com textos e fotos. Quem tiver história ou imagem, mande para surfedeluxe@gmail.com
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