Surfe deluxe

Diário de um amador: Maldivas

30.5.08

O amigo Alexandre Ratto, surfista, tricolor e administrador, é o titular da vez no "diário de um amador". Dias atrás, ele voltou de uma daquelas surftrips de sonho, que até a mulher gosta. Foi para Maldivas pela segunda vez, com a esposa e os amigos. Confira abaixo o relato completo do Ratto e das tocas azuis daquele arquipélago.

Em 2006, eu já havia estado nas Maldivas. Naquele ano, ficamos apenas quatro dias no Dhonveli - resort onde está localizada a famosa esquerda de Pasta Point - porque o destino principal era o atol mais ao Sul das Ilhas Maldivas, onde fizemos uma boat trip de sonhos por ondas totalmente inabitadas. As Mentawais de lá! Durante 10 dias de barco, em 5 tipos de onda diferentes, cruzamos com apenas um barco... Mesmo assim, ficou a sensação de que não tínhamos curtido ao extremo, o resort e a perfeita esquerda do Pasta.

Como a onda é muito procurada, e o resort possui apenas 30 vagas para surfistas, as reservas têm de ser feitas com bastante antecedência. Coisa de um ano antes. Dito e feito. Para chegar lá, são pelo menos três vôos. O vôo foi Rio-Paris-Doha-Male, tudo pela Qatar (nota do blog: a companhia é surf friendly, não cobra taxa de prancha).

Maldivas é um país insular muçulmano. O ponto mais alto fica a apenas 3 metros do nível do mar. Reza a lenda que por isso algum dia pode desaparecer, portanto é bom curtir enquanto é tempo. São 26 atóis e cerca de 1.190 ilhas - sendo que 200 inabitadas e 90 prestes a ganhar resorts. A população é de 280.000 pessoas, das quais 80.000 vivem em Male, capital. A língua é Dhivehi, sendo que as ilhas mais ao Sul possuem seus próprios dialetos. A temperatura fica constantemente entre 26 e 30 graus Celcius. Tem muito europeu por lá, especialmente italiano. Daí o nome do pico, Pasta Point. Os melhores períodos para o surfe são entre março e maio ou entre julho e setembro.

No aeroporto de Male, é fundamental apresentar o certificado de vacinação contra febre amarela. Ao sair, do outro lado da rua, uma comitiva do Dhonveli já está à espera para levar os hóspedes ao resort. São cerca de 20 minutos de speed boat até lá. No hotel, o hóspede é direcionado a uma das 4 modalidades de acomodação do resort Chaaya Island Dhonveli: Water Bangaloos, Garden Bangaloos, Superior Rooms e Beach Bangaloos. Neste momento, você é identificado como surfista ou não surfista. Caso você não tenha feito a opção para surfe, o máximo que poderá fazer é observar a bancada quebrando.

Nós fomos recebidos pelos guias de surfe Janick, Dhara e Mike (da Atol Adventures), que nas horas vagas ainda fazem fotos de todos pegando altas ondas. São eles que ajudam a identificar as maré e as correntes, que nas Maldivas ajudam ou atrapalham o posicionamento no pico. A Atol Adventures é a empresa que controla o acesso de surfistas ao Pasta Point. É através dela que se deve fazer a reserva para surfistas.

Quando chegamos, o mar estava pequeno há quase 10 dias, mas a previsão era de swell no dia seguinte. Mas no final de tarde em que chegamos já deu um surfe de gala, com mar glass e ondas de um metrinho. Infelizmente não tivemos condições físicas de cair. No dia seguinte, às 5 da matina, e nós ainda no fuso, ouvimos o toque para a primeira barca. Barca? Sim! Além da esquerda privativa do Pasta Point, o resort disponibiliza dhonis (pequenos barcos) para levar os surfistas a outras ondas no entorno, como Sultans (direita em frente ao Pasta), Jailbreaks (direita), Honkeys (esquerda), Cokes, Chickens, etc. Nessas ondas, o crowd é grande, em função dos surfaris que rolam em North Male Atols. Mesmo assim, tem onda pra todo mundo!

Nosso primeiro surfe foi em Jails, que possui esse nome porque a onda fica de frente para um presídio desativado. Meio metro com vento não era o que esperávamos, mas deu pra dar o primeiro banho.

Fora o surfe, o resort tem várias outras atrações, como a Blue Lagoon, uma praia sem ondas que parece um cartão postal. Nela há uma bancada de coral onde é possível fazer snorkling ou mesmo mergulho de garrafa. O Dive Centre disponibiliza aulas para iniciantes e mergulhos profundos para os mais experientes. Há o Spa, em que você pode escolher entre várias modalidades de massagens. Ainda tem uma piscina muito bonita, quadra de tenis, sala de ginástica, 3 restaurantes, 2 deques de frente para o mar...

Mas, para a galera do surfe, o que vale é estar dentro d'água ou, no máximo, de frente para as ondas. Por isso, os caras construíram um super deque de frente para a onda, com serviço de bar, música ao vivo, wireless para intenet, tudo para ficar em sintonia com o mar.

Tirando o surfe em Jails, só voltamos um dia para Sultans, que inexplicavelmente não tinha a presença de nenhum surfari. Pegamos altas sem crowd. Uma onda tão longa quanto a de Pasta Point, mas para a direita! Fora isso, nos concentramos no Pasta Point.

A onda de Pasta é uma esquerda perfeita, que quebra sobre uma bancada de coral rasa, mas não tão afiada. A grande vantagem é que ela é privativa, e nunca os 30 surfistas surfam ao mesmo tempo. É normal cair com mais 4 ou 5 pessoas. Durante a viagem, em algumas ocasiões estive sozinho no line-up. Aquilo é uma máquina de ondas. A segunda sessão e o inside são as que propiciam os tubos. Não são tubos longos, mas que fazem bem à cabeça. Para quem quer afiar as manobras, a onda do Pasta é um sonho! Você vai cansar de dar batidas, snaps, cutbacks numa onda que nunca fecha.

Nesta temporada, pegamos entre meio metrão e 1,5 metro em média. Mas no índico é comum, num mar de 1 metro, quebrar uma série inesperdada de 6 pés. Isso acontece pelo intervalo grande entre as ondas. Também é comum observar cardumes de golfinhos e black tips (tubarões), mas nunca houve nas Maldivas.

Como os preços da viagem não são baratos, a idade média dos surfistas é mais avançada... É comum encontrar americanos, havaianos, australianos, ingleses, alemães e também brasileiros na faixa dos 35 anos. Não é raro ver surfistas de 45, 50 e até de 60 anos. Tinha um australiano de 62 anos mandando ver. O cara dava, mole, cinco caídas por dia no mar.

Nós também ficamos na água. Demos diversas caídas de mais de três horas de duração, e não foram poucas as vezes que apelei para massagens para dores musculares nos braços e nas costas. Durante os 10 dias de estada, rolaram altas ondas, sem nenhum dia flat. Dei uma média de 3 caídas por dia, o que somam cerca de 30 sessões de surfe, com cerca de 20 ondas em cada. Faz as contas aí para ver se deu faz a cabeça! Depois de 2 temporadas nas Maldivas, o que posso dizer é que se você é surfista e nunca foi lá, reserve dinheiro e data para uma surftrip futura.

Pasta Point é um pico para se surfar até o fim da vida, de preferência levando a família junto. Neste ano, minha esposa foi e disse que nunca viu um local tão bonito na vida. Brincávamos dizendo que se formos para o paraíso e se for igual às Maldivas, tá tudo ótimo!

Na próxima, vou levar meu filhote. Valeu galera. Boas ondas! Ratto.

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Foto de fundo: Saquarema, por Fábio Minduim / Layout: Babi Veloso
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