Surfe deluxe

Diário (V): as ladeiras de Sunset

14.1.08

No quarto post do diário do Havaí, escrito pelo economista-surfista Pedro Ribeiro - ou seria surfista-economista -, a primeira vez com uma onda um pouco mais gorda, mas capaz de um caldo maior que muitas esbeltas tubulares: Sunset.

Leia aqui: o primeiro post, o segundo post, o terceiro post e o quarto post.


Dia 9/01 - North Shore, Oahu

O swell aumentou e continuou inclinado de nordeste. Rocky Point estava rolando, assim como suas primas Backdoor, OTW e Rocky Piles. Pipe quebrava com seus bodyboarders obstinados, sem a perfeição usual. Apesar de todas as tentações, continuei fixado na idéia de surfar a famosa onda de Sunset Beach.

Era a vez da longa ladeira. Botei minha prancha oito pés Mad Dog (que foi do Kléber, do Chalita...) na água. Depois de observar por alguns minutos o movimento da massa d´água, escolhi o melhor local para começar a remada rumo ao pico. O vento soprava forte e criava um visual muito familiar aos meus olhos. Era uma cortina de água incrível, que onda após onda pincelava as dezenas de fotos tiradas por turistas e fotógrafos de plantão.

Dava minhas remadas em direção ao pico, e não parava de pensar em todas as fotos, vídeos e histórias que já tinha visto sobre aquele local. Foco. Depois penso nisso. As séries estavam bem grandes, chegavam aos 9-10 pés tranqüilamente. As intermediárias estavam com seus 4/6 pés e acabaram sendo a minha opção pra abrir a caída. Logo que cheguei lá fora, deu pra ver o volume de água que passava por mim a cada onda. Abri rabeando um carinha. Descemos juntos uma ladeira interminável e saímos da onda sorrindo. Devia ser iniciante, como eu... ou não. Voltei empolgado e decidi arriscar as maiores logo. O ombro sinalizava que o prazo de validade estava chegando. O punho também começou a atrapalhar: doía o tempo todo.

Lá fora só tinha barco. A minha prancha era um caiaquezinho de merda se comparada às 9 pés e tanto brilhantes dos 5 ou 6 caras com pinta de locais. Fiquei um pouco atrás deles. Quando veio a primeira da série, não deu pra acreditar! Me caguei! Era uma parede de onda que parecia que iria quebrar muito lá fora. Remei que nem um condenado, e passei todas as ondas da série sem perrengue. Ela arma mas não quebra, entendi. Tem que ter sangue frio! Rema pra cá, rema pra lá, Barton Lynch estaciona ao meu lado. Hahaha Parece novela! Pois, na série seguinte, ele surfou uma onda irada, venenosa e saiu lá na pulta quil parau. Ah tá... é assim que se faz... beleza.

Na série seguinte, o dono de um Titanic não conseguiu entrar numa onda maravilhosa, uma carranca padrão. Não pensei duas vezes: iniciei minha investida. Bem, das últimas remadas até a metade do drop eu vi muito pouca coisa, tamanha era a quantidade de água jateada na minha cara. Só deu pra sentir aquela sensação de pouco peso e em seguida o peso nos joelhos. Quando me dei conta, estava ladeira abaixo, lutando pra chegar até a base e mudar de direção. Dito e feito, comecei a cavar forte porque vi a parede de água que se formava na minha frente. Joguei lá pra cima dela e dei uma leve rasgada pra fazer um segundo drop. Que velocidade! Tudo sob controle, já não tinha mais muita aventura. Era só continuar passeando até o mais longe possível da zona de impacto e o mais próximo do canal. Lá sentado, como de costume, parei pra contemplar o momento. Surfei uma onda grande em Sunset. PQP!

Depois disso não me dei por satisfeito e voltei pra lá. Veio uma série animal e varreu todos menos eu e mais 3. O Barton ressurgiu com sua prancha quebrada. Peguei mais uma que fechou e aí foi sinistro. Deitei na prancha e não larguei por nada. Ai meu punho! Voltei pro outside e surfei mais duas. Vi imagens lindas de ondas incríveis sendo surfadas com maestria pelos locais. Lá pelas tantas aparece novamente o Barton de prancha amarelada e dá aquela olhada tipo "beleza?".

Pronto, vocês sabem como gosto de um chat-amizade. Hahaha!
- Pô, vi que você quebrou sua prancha.
- Pois é. Era novinha. Uma pena! Cara, tem altas ondas!
- É mesmo! Essa é minha primeira caída aqui. Pra mim tá demais. É sempre assim, meio confuso, subindo ondas ora de um lado, ora de outro?
- Sempre! Sempre!
- Cara, te vejo competir desde criancinha no Brasil. Sou um grande fã seu.
- Pô, obrigado. Legal.

Aí, subiu uma série e a conversa acabou.

Já cansado, surfei outra um pouco menor que a primeirona e consegui ir até bem próximo da praia. Que bom! Sai do mar realizado e feliz pra cacete. Vocês não podem imaginar quanto! Seis ondas surfadas em Sunset.

Agora já surfei as quatro principais ondas: Pipe, Haleiwa, Rocky e Sunset. E Waimea?? A previsão é de que o mar deve subir nos últimos dias. Será??? Será???

Comi um arroz com feijão irado em casa e depois fiquei vendo o espetáculo de ondas de OTW e Rocky Piles, que já estavam bem maiores. Acabei não surfando à tarde e indo pra um outlet na cidade vizinha. Enorme! E eu achando que o Hawaii era ilha de surfista.

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Foto de fundo: Saquarema, por Fábio Minduim / Layout: Babi Veloso
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