8.1.08
Todo inverno havaiano é a mesma coisa. A imprensa especializada cobre todos os movimentos das grandes estrelas do surfe mundial na temporada no North Shore. Mas falam pouco do surfista amador, para quem o Havaí é, muitas vezes, o grande desafio da vida. Um chapéu naquela onda que sobrou em Pipeline depois de três horas de surfe tenso tem mais valor que o enésimo tubo profundo de um top 45 ao seu lado. É tudo uma questão de perspectiva.
Por isso, o Surfe Deluxe publica, a partir de hoje, por uma semana, o diário do amigo Pedro Ribeiro, um bom surfista amador que divide seu tempo entre o trampo numa telefônica e as ondas do Leblon. Foi a primeira e inesquecível temporada havaiana do garoto, recheada de surpresas, novas sensações e limites ultrapassados.
Ontem recebi um e-mail dele: "Ano que vem, tô lá de novo."
Abaixo, os dois primeiros dias:
Dias 01 e 02/01 - De frente pro melhor mar
Depois de uma viagem bem cansativa, de estresses por conta de taxas extras e vasos de perfume e protetor solar indevidos, cheguei ao Havaí. A pessoa que iria me buscar não apareceu e acabei formando uma dupla com um sul-africano gente boa. Alugamos um carro e fomos em direção ao North Shore. Aproveitamos para pegar algumas direções e enfim conseguimos encontrar a tal casa com as pessoas conhecidas.
Fui bem recebido e já estou instalado. Por enquanto durmo na sala, mas amanhã já passo para o quarto, que me custará US$ 40 por dia. A casa fica em frente a Pipeline, a praia mais cobiçada da ilha. Ainda estou custando a entender as coisas todas, mas aos poucos vou me dado conta.
Estou bem tranqüilo. Dormi bem na primeira noite e estou certo de que aproveitarei bastante. Tudo me leva a crer que foi uma decisão acertada. O clima da casa é bem leve, com garotos descompromissados curtindo a vida, o que acaba sendo bom, se não considerar a bagunça.
O mar amanheceu enorme e estou indo pro lado Oeste da ilha em busca de ondas menores. Aqui em frente fotografei desde 6h30m da matina o espetáculo de ondas cabulosas e amedrontadoras! O interessante é ver pessoas se aventurando nelas com muita simplicidade e desprendimento. Acho que é o habito. Só pode ser!
Dei minha primeira caída, cara. PQP! Tava muito nervoso. Nem parecia eu!
O mar tava enorme, rolando Waimea. Pipeline 15 pés na frente de casa. (de
madrugada o som das bichas bombando... imagina!).
Fui prum pico de direitas chamado Puena Point, na entrada de uma baía e, por isso, mais protegido do swell. De início, achei que com a minha oito pés sobraria muita prancha, mas lá dentro vi que as ondas de seis pés da série deixavam meu "barco" mais à vontade. Aí, começaram a quebrar ondas de oito pés, assim do nada! Incrível! Na minha primeira onda, uma de seis pés, logo que fiquei de pé o tubo armou na minha frente. PQP, mas logo na primeira onda da primeira caída no Havaí!!! Minha indecisão custou caro e tomei o lip nas costas. Aiii!
Na segunda, tratei de encontrar a posição correta dos pés. Na terceira, coloquei no trilho, braço esquerdo dentro d´água, lip passando pela cabeça... não acredito! Dei mais uma rasgada singela e outra batidinha miserável logo em seguida. Sentei sobre minha tabla e começaram a vir a família, os amigos em flashes na cabeça. Emoção pura!
É isso! Depois ainda fui checar o lado oeste, Macaha, mas nem me empolguei com o mar e fiquei no carro curtindo o visual. Passei no mercado, comprei comida congelada, banho, janta, histórias, e-mail e naninha daqui a pouco.
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