16.10.08
Tyler Wright, 14, campeã da etapa australiana do WCT. (Foto: Steve Robertson - ASP)
Perguntaram-me certa vez: "até quando você vai pegar onda?"
Talvez seja verdade a história de que não existem ex-surfistas - pelo menos os de alma. Como amadureci sobre a longarina, sempre acreditei que minha geração faria o mesmo. A indústria acabaria investindo em novos produtos, mais sofisticados, feitos para uma galera que troca fralda, batalha no trabalho e, no intervalo, corre para o surfe. Uma vez por ano, com sorte, uma trip de sonho com os amigos e a família.
Outro dia, num chope com Felipe Zobaran, um dos mais esclarecidos e bem-sucedidos surfistas-jornalistas do mercado, tentei defender o crescimento do consumidor de mais de 30 anos que não puxa o bico para as dificuldades da vida e continua pegando onda. Ele confirmou a invasão dos coroas no line-up, mas disse ainda não acreditar nesse público como consumidor de produtos mais sofisticados. Explicou que o surfista com mais de 30 anos quer resgatar a juventude, e não assumir a maturidade. Ainda discordo de Felipe, apesar de saber que não lhe faltam subsídios para essa conclusão - o cara ocupa um cargo de direção na Abril e, no passado, editou a Fluir.
Pesa a favor de Felipe o fato de o surfe ser um dos esportes com evolução técnica mais dinâmica. O bom surfista dos anos 90, na média, está ultrapassado hoje. Claro que jamais faltará espaço para surfistas de linha, fortes, com um surfe base-lip consistente. A questão é que poucos conseguem se manter por muito tempo com esses atributos. Alguém há de lembrar de Slater, Occy, Sunny: pois então, eles são apenas as exceções que confirmam a regra.
Dias atrás, a pequena aussie Tyler Wright, de 14 anos, venceu um WCT em casa. Na final, tirou o que seria a primeira vitória de Silvana Lima na elite. Dizem que a brasileira foi garfada, que empurraram a menina australiana. Não importa. Nos registros da ASP, vai constar que uma quase-grommet destronou nossa melhor surfista. O detalhe é que, apesar da derrota, Silvana, 10 anos mais velha que Tyler, parece estar madura. Ocorre que, no surfe, a maturidade pode ser ingrata.
Em tempo, antes que eu envelheça: vou pegar onda para sempre.
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